
 Meu nome é Cristian Dimitrius, sou cinegrafista do quadro Domingão  Aventura e vou contar para vocês um pouco sobre a gravação com os  gorilas da montanha.
 
 Documentar a natureza nunca é uma tarefa fácil, principalmente quando  falamos de um animal que chega a pesar 300 quilos e pode te matar com  um único golpe. Os gorilas são tão fortes que conseguem levantar 5 vezes  o peso do seu corpo. Imagina só se este animal se irrita com a gente e  decide dar uma investida?
 
 Bom, isto de fato aconteceu, mas por sorte foi com um filhote. Estava  filmando um grupo em um belo riacho, local que carinhosamente chamei de  “vale encantado”, e um jovem gorila veio em minha direção e acertou  minha câmera. Por sorte, foi só um tapinha e pude continuar filmando. No  mesmo local um grande adulto, o “silver back”, passou a apenas 10  centímetros da minha lente. Se ele resolvesse dar um tapa também, seria o  fim da minha câmera…e talvez o meu também.  Que bom que ele só passou.  Estes foram apenas sustos que, no final, renderam belíssimas imagens  para a matéria.
 
 Difícil mesmo era encontrar estes animais. Todos os dias tínhamos que  subir uma hora e meia de carro em estradas de terra até a base de um  vulcão e, de lá, caminhar. Nunca sabíamos se íamos caminhar duas ou 6  horas. A subida era bem íngreme, a trilha bem fechada e para complicar  ainda mais, infestada de urtigas. Nada mal, não é? Fiquei dois dias com o  corpo ardendo. E tem gente que pensa que a nossa vida é fácil.
 
 Para subir, contávamos com a ajuda de carregadores para levar a maior  parte do equipamento pesado e uma boa equipe de guias. Confesso que sem  eles nenhuma destas imagens seria possível. A caminhada era dura e  “ardida”, mas tivemos um pouco de sorte, pois nas duas vezes que subimos  levamos “apenas” duas horas para encontrar os bichos. Uma vez que os  encontrávamos, aprontávamos as câmeras e mãos a obra. Tínhamos apenas  uma hora de permanência para registrar vários comportamentos. E ai está  outra dificuldade: tempo limitado. Para filmar natureza quanto mais  tempo melhor, mas isto quase nunca é possível, infelizmente.
 
 Procurávamos manter sempre uma distância segura, que era quebrada  algumas vezes pelos gorilas mais curiosos que vinham nos investigar,  como o que acertou a minha câmera. Ficamos seguindo os gorilas e tomei  outro susto quando um grande “silver back” veio em direção a minha  câmera batendo as mãos no peito, o que chamamos de “charge”. Mais uma  vez, foi só um susto e tive o sangue frio de ficar parado e não perder  nem um segundo de imagem.
 
 Depois de duas excursões à montanha dos gorilas tínhamos tudo o que  precisávamos para a matéria. Ainda com os músculos doloridos, assistia  as imagens no meu computador e vibrava com cada cena. No final valeu a  pena enfrentar o mar de urtigas, as longas e extenuantes subidas, a  pressão de conseguir as cenas em pouco tempo e o risco de lidar com os  gorilas. Foi mesmo uma experiência única e tenho certeza que conseguimos  compartilhar esta emoção na matéria que foi ao ar no Domingão do  Faustão e que pode ser re-vista no site do Domingão Aventura.
 
 Até o próximo por trás das lentes!
 Cristian Dimitrius